Sempre que perguntavam a Michael Schumacher, 'quem é o melhor de todos os tempos?', a resposta do alemão era sempre a mesma: 'Senna'. O ex-chefe da Red Bull, Jonathan Wheatley, revela a profunda relação entre ambos os pilotos e suas equipes rivais na fatídica temporada de 1994 da Fórmula Um.
Houve ocasiões em que Schumacher e Ayrton Senna se encontraram na pista, gerando alguma controvérsia na mídia como o incidente no Grande Prêmio do Brasil de 1993, durante um treino em que o brasileiro inadvertidamente bloqueou o alemão, desencadeando a ira deste último que recorreu à mídia para objetar às ações de seu concorrente.
Este incidente culminou em Magny-Cours, no Grande Prêmio da França, quando Senna foi atingido por Schumacher no início da corrida. Após a corrida ser interrompida por bandeira vermelha, o então piloto da McLaren, pegou seu rival da Benetton e o levou para o lado em frente a um impotente Flavio Briatore e lhe deu uma lição no meio da pista sugerindo ao alemão que, caso houvesse algum problema, ele deveria procurar o tricampeão mundial pessoalmente, em vez de recorrer à mídia.
No entanto, esses incidentes na pista não afetaram o respeito e a camaradagem que ambos os pilotos tinham um pelo outro e por suas equipes rivais.
“Tivemos esse tipo de relacionamento contínuo em 1994, onde Michael estabeleceria uma pole position, e então quando Ayrton saía do boxe, eu mostrava para ele o quadro de avisos com o tempo de Michael," revelou o ex-chefe da Red Bull no podcast Beyond the Grid.
“E ele abriria a viseira, balançaria a cabeça, fecharia. Ele voltava, era mais rápido que Michael, e me olhava da mureta como quem diz, ‘E então, onde está meu tempo [no quadro de avisos]?’"
“Havia essa camaradagem que talvez as pessoas não estejam cientes. Você não está apenas em feroz competição com as pessoas. Você está se esbarrando nelas.”
Olhando para trás naquele fatídico fim de semana de corrida de 1º de maio de 1994, Wheatley tem certeza: “Imola 1994 é o pior fim de semana que consigo me lembrar. Ainda posso lembrar das emoções."
“Eu guardei muitas coisas de ’94 porque acho que, para mim como um jovem, aquilo foi um ponto de virada. Ainda posso me lembrar de Mick Cowlishaw, o chefe de mecânicos da [Benetton], vindo até mim, colocando a mão no meu braço, porque ele sabia da relação que eu tinha [com Senna] e como eu pensava sobre isso, e me dizendo que ele havia partido."
É claro, o acidente de Senna não foi o primeiro naquele fim de semana, com o acidente do brasileiro Rubens Barrichello sendo o primeiro em uma longa linha de acidentes graves, que também incluiu o acidente fatal do então novato na F1, Roland Ratzenberger.
“Aquele fim de semana estava cheio de tantas coisas. Sabe, o acidente de Rubens, onde ele coloca as mãos na frente do rosto [no momento do impacto com a barreira]. Aquela imagem é incrível. Simplesmente mostra o ser humano dentro do carro."
“Então Roland. Eu lembro de ter visto aquilo na TV e imediatamente entender que não era um acidente normal – era realmente, realmente sério."
Apesar dos acidentes, e da fatalidade do jovem austríaco a bordo do carro Simtek, a corrida ainda foi dada como válida e o resto é história trágica.
"Então na corrida, JJ [Lehto] estagnou na largada, o impacto massivo que causou a bandeira vermelha."
“Então [Michele] Alboreto perdeu sua roda no pitlane e a porca da roda atingiu meu mecânico número um, cortou sua perna. A roda foi parar no box da Lotus onde atingiu alguém lá... então o acidente de Senna na corrida."
“Nós não queríamos entrar no avião. Lembro que estávamos sentados em silêncio na sala de embarque do aeroporto. Os caras da Williams acabavam de ser informados sobre Ayrton, e nenhum de nós queria entrar no avião, ‘O que vai acontecer agora?',” disse Wheatley.